Entendendo um setor que une cuidado, viagem e experiência
O Turismo de Saúde é uma das expressões mais contemporâneas da interligação entre mobilidade humana, bem-estar e sistemas de saúde. Longe de ser um fenômeno recente, ele evoluiu de antigas práticas de deslocamento para tratamentos, termas e retiros espirituais até se consolidar, nas últimas décadas, como um segmento estruturado da economia global do cuidado.
Hoje, o setor engloba duas grandes dimensões: o turismo médico (illness tourism) — voltado a procedimentos clínicos, cirúrgicos e hospitalares — e o turismo de bem-estar (wellness tourism), associado à promoção da saúde, prevenção de doenças e qualidade de vida. Juntos, esses subcampos movimentam bilhões de dólares por ano e estimulam o desenvolvimento de destinos, serviços e políticas públicas em todo o mundo.
Múltiplas definições
Podemos definir o Turismo de Saúde como a viagem intencional de pessoas para fora de sua área de residência habitual com o objetivo de manter, aprimorar ou restaurar a saúde e o bem-estar físico e mental.
Essa definição enfatiza três aspectos centrais:
- Motivação do viajante — o foco é o cuidado com a saúde, seja preventivo ou curativo.
- Deslocamento voluntário — há um movimento intencional em busca de um serviço percebido como melhor, mais acessível ou mais humanizado.
- Experiência ampliada — o paciente ou turista busca não apenas um tratamento, mas uma vivência que integre hospitalidade, conforto e acolhimento cultural.
A Organização Mundial do Turismo complementa essa definição, destacando que o Turismo de Saúde inclui atividades que envolvem o uso de produtos, serviços e instalações de saúde, bem-estar e hospitalidade com foco na prevenção, cura e regeneração. Ou seja, o conceito ultrapassa os limites hospitalares e alcança spas, clínicas de estética, centros termais, retiros e destinos de relaxamento.
Diferentes perfis, um mesmo propósito
Há quem busque procedimentos médicos especializados — como cirurgias estéticas, ortopédicas, cardiológicas, bariátricas ou odontológicas — em países reconhecidos pela qualidade e custo-efetividade. Outros optam por experiências de bem-estar, como terapias holísticas, ioga, medicina integrativa e programas de desintoxicação.
Essa diversidade de perfis leva especialistas a afirmarem que o Turismo de Saúde é um sistema híbrido, em que o paciente é também um viajante e o destino é tanto um local de tratamento quanto um espaço simbólico de renascimento.
Por que o setor cresce?
Entre os fatores que impulsionam o Turismo de Saúde estão:
- Diferenças de preço entre países e regiões;
- Busca por tecnologias e profissionais de excelência;
- Tempo de espera reduzido em determinados destinos;
- Integração entre saúde, hospitalidade e lazer, que torna o processo terapêutico mais humano e atrativo;
- Adoção de certificações internacionais, como as da Joint Commission International (JCI), da Global Healthcare Accreditation (GHA) e da Organização Nacional de Acreditação (ONA), por parte dos estabelecimentos de saúde, gerando no usuário percepção de valor, que gera confiança.
Esses elementos colocam o Turismo de Saúde como um vetor de inovação dentro do ecossistema global da saúde, ao promover novas formas de atendimento, gestão e experiência do paciente.
São Paulo e Rio de Janeiro no contexto global
São Paulo e o Rio de Janeiro despontam como destinos com enorme potencial em ambos os segmentos – illness e wellness tourism.
Além de seu sistema público de saúde consolidado (SUS) e de sua rede privada reconhecida, o país reúne uma uma rede hospitalar moderna, com experiência no atendimento às mais diversas e complexas demandas, médicos altamente qualificados, muitos deles com especializações internacionais, além de uma malha aeroviária que liga ambas as cidades às principais capitais da America Latina e do mundo. Em apoio à esse ambiente propício para o Turismo de Saúde, ambos os estados possuem um ecosistema de recursos naturais, clima, diversidade cultural capazes de sustentar uma proposta integrada de Turismo de Saúde e bem-estar.
Consolidar essa vocação, entretanto, depende de planejamento, regulação e formação profissional, temas que serão desenvolvidos nas próximas semanas do calendário editorial.
Conclusão
O turismo de saúde é mais do que uma viagem para tratar o corpo: é um movimento de busca por experiências de cura, reconexão e confiança.
Compreendê-lo em profundidade é o primeiro passo para posicionar destinos, hospitais e profissionais de forma ética, inovadora e sustentável — colocando o paciente no centro da jornada.




1 Comment
Muitíssimo interessante e sem dúvidas uma fonte para “ressignificação” da imagem e “saúde” do Rio de Janeiro. Algo tem que ser feito para que torne-se destino de referência no Turismo de Saúde. Parabéns